Chegada na Amazônia
Cheguei na Amazônia. O avião pousou em meio às árvores tricentenárias, desviando com cuidado dos indígenas que, desnudos, miravam seus arco e flecha na direção da escada de desembarque. Micos dourados, onças, jacarés e até uma sucuri gigante me aguardavam no hall principal do aeroporto improvisado. Surpresos com a presença de um homem branco com vestimentas coloridas, os locais me observavam aflitos com o estranho objeto brilhoso que eu carregava em minhas mãos para me comunicar com meus amigos “da cidade grande”.
Como não haviam mais elefantes para me transportar até a minha cabana, me vi obrigado a trocar o espelhinho da minha nécessaire por uma carona em uma mula de carga. Passando pelos seringueiros, temi que algum jagunço roubasse meu mochilão e ameacei os passantes em português mesmo, porque não falo tupi para fazer as ofensas corretas. Na cabana, o banho era somente de rio e a luz do lampião não alcançava o meu exemplar de Into the Wild, prejudicando a leitura e criando um elemento de tensão importante para a minha aventura.
O barulho da selva, ensurdecedor, dava destaque a uma briga de araras e tucanos em busca da mais volumosa castanheira, enquanto caboclos extraíam seus ouriços lotados de sementes que seriam comercializados de forma a melhorar a vida de toda uma população. Nas árvores vizinhas, seringueiros arranhavam grossos troncos em busca das gotas de sua preciosa fonte de renda, transformando o líquido branco em lindos artefatos coloridos que serão consumidos pelos turistas dos países mais remotos do globo. Receosos de uma possível fiscalização, tinham seus remos a postos para uma atribulada fuga de canoa entre os pequenos igarapés iluminados apenas pela luz da lua cheia.